Banco de dados reúne raias gigantes registradas na costa brasileira

Leo Francini/Mantas do BrasilO Brasil é o primeiro em toda a América Latina a possuir uma plataforma virtual, aberta à consulta pública, com informações detalhadas de todas as raias gigantes (Manta birostris) registradas na costa do país. O recurso reúne informações dos animais da espécie, que podem atingir oito metros de envergadura e pesar duas toneladas, mas que correm risco de extinção.A ação é uma iniciativa do Projeto Mantas do Brasil, que possui patrocínio oficial pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O Banco Brasileiro de Mantas (BBM) já está no ar, disponível no site oficial do Projeto (www.mantasdobrasil.org.br). A ferramenta digital reúne informações detalhadas sobre o animal avistado, além de fotos. "Mais do que um grande catálogo de registros e identificação, o BBM é uma ferramenta de estudo, uma vez que nos ajuda a verificar o aparecimento e reaparecimento desses gigantes marinhos por toda a costa brasileira, além das condições biológicas em que ela se apresenta a cada avistagem", explica a coordenadora geral do Mantas do Brasil, a mergulhadora Ana Paula Balboni Coelho.

É possível consultar os animais por meio de filtros de pesquisa, por data de avistagem, sexo, coloração, tamanho estimado e até mesmo pelas características das manchas ventrais que distingue um animal dos demais.

O Banco possui mais de 110 registros reunidos, decorrentes de pouco mais de uma década de acompanhamento e monitoramento, e disponíveis para consulta. A plataforma é considerada um importante marco para a pesquisa acerca das raias mantas na costa brasileira, conforme destaca o biólogo e pesquisador da espécie, Leopoldo Francini, que também é Coordenador de Pesquisas do Projeto Mantas do Brasil. "O Banco Brasileiro de Mantas possibilita que saibamos até mesmo de que maneira e em que percentuais os humanos estão interferindo na vida das raias mantas", explica.


Um dos filtros de consulta desenvolvidos pelo criador da ferramenta, Ricardo Coelho, Coordenador de Tecnologia do Projeto, é justamente pela presença de cicatrizes decorrentes de petrechos de pesca (linhas, redes, pontas de arpão, anzóis, entre outros).

A primeira raia manta avistada na Temporada 2015 no Brasil já foi inserida no BBM. Trata-se de um macho de pouco mais de 4 metros de envergadura localizado pela equipe de pesquisadores do Projeto na Ilha da Queimada Grande, distante aproximadamente 35 quilômetros de Itanhaém, no Litoral Sul de São Paulo. Foi o primeiro registro desse indivíduo. Apesar de saudável, a raia apresentava inúmeras cicatrizes no dorso (costas) e no ventre (barriga), causados por enrosco com petrechos de pesca. O animal foi batizado com o nome de "HELP".

Todo e qualquer mergulhador pode contribuir para o Banco Brasileiro de Mantas. Basta que ele faça uma boa foto do ventre (região abdominal) da raia avistada, uma vez que as manchas localizadas nessa região funcionam como as digitais humanas, são singulares. "Esse é o trabalho que chamamos de fotoidentificação. Com essas imagens ventrais, podemos identificar os indivíduos e registrá-los e saberemos que se trata do mesmo animal caso venha a ser reavistado. Teremos a evolução de crescimento e observaremos o estado de saúde do animal ao longo de sua vida.", destaca Francini. Ele lembra também que todas as informações que estão no BBM são fornecidas pelo Projeto também ao MantaMatcher, ferramenta pública mundial, alimentado por diversos projetos de preservação desses gigantes marinhos ao redor do globo.

Ameaçadas de extinção

Completa-se em 2015 dois anos da proibição da pesca predatória de raias mantas no Brasil. "A lei prevê sanções aos pescadores que trouxerem a bordo de suas embarcações o animal morto ainda que por acidente”, ressalta a coordenadora geral do Projeto, Ana Paula Balboni Coelho. Nem por isso elas estão livres da pesca ou do efeito das ações humanas.

“Nove animais, de um total de 111 catalogados até o momento, apresentam ferimentos decorrentes da ação humana, ou seja, 8% do total catalogado sofreram com a ação direta do homem”, afirma Ricardo Coelho.

A missão do Projeto, que existe oficialmente há 5 anos, é justamente a luta pela preservação das raias gigantes. Além de ações voltadas à educação ambiental, que alcança estudantes de toda a Baixada Santista, o Projeto realiza a capacitação gratuita de mergulhadores, profissionais ou amadores, para realizarem a foto-identificação de cada indivíduo da espécie (a partir de fotos do ventre) durante encontros subaquáticos com as raias gigantes, visando aumentar os dados disponíveis no Banco Brasileiro de Mantas.

Todos os registros são catalogados no Banco Brasileiro de Mantas, a mais nova ferramenta do Projeto Mantas do Brasil em defesa das raias gigantes do litoral brasileiro.

Além do patrocínio oficial pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Mantas do Brasil é patrocinado também pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do Porto de Santos.


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