MANTAS DE NORONHA: BELO ESPETÁCULO PARA OS HUMANOS, RISCO DE MORTE PARA OS ANIMAIS

Nos últimos meses, raias-manta têm exibido um verdadeiro balé aquático no Porto de Santo Antônio, em Fernando de Noronha, que virou atração dentro e fora d’água. Mas, o que atrai nossos olhos, guarda um enorme perigo para os animais: o risco de ferimentos e até de morte nas pedras e, principalmente, nos inúmeros e grossos cabos de poitas das embarcações da área.

                                                                                           

As piruetas das mantas à flor da água indicam alimentação: é assim que elas filtram a água para comer o plâncton. O comportamento alimentar das raias gigantes de Noronha há anos já vem sido observado pela equipe do Mantas do Brasil e nossos cientistas parceiros, em diversos pontos da ilha. Mas por que só agora os animais começaram a fazer isso no porto, quase que diariamente e à noite? Após uma forte ventania, um holofote, instalado para uma obra no porto, girou de posição e passou a iluminar diretamente a água. A forte luz atrai plâncton, pequenos peixes e, consequentemente, as mantas – que normalmente se alimentariam mais afastadas da costa.

Condicionar animais a irem todos os dias a um mesmo lugar para comer já é uma forte interferência humana. Mas, o pior, é que o local em questão é um porto, repleto de cabos, motores de barcos, petrechos de pesca e diversos perigos que elas precisam cruzar para chegar às pedras do mole – mais uma ameaça –, onde a luz está posicionada.

                                                                                             

Diante dos relatos, a equipe de campo do Mantas do Brasil, coordenada pelo biólogo Leo Francini, foi a Noronha, no início de setembro, para analisar este comportamento, verificar se os animais estavam saudáveis, fazer imagens e coletar amostras. E a conclusão é clara: a luz deve ser desligada. A situação é tão preocupante que enviamos um parecer técnico ao ICMBio , autoridade responsável pela gestão do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, solicitando que tomem providências para o desligamento das luzes.

Comparando registros dos mesmos animais antes e depois da iluminação na água, encontramos cortes, arranhões, anzóis presos e outros ferimentos. O mais grave foi o caso da manta Lucca, nosso xodó, um macho juvenil avistado pela primeira vez em janeiro deste ano e que frequentemente aparece para os mergulhadores – desde então, já temos mais de 15 registros dele pelo arquipélago. No mais recente antes de nossa visita, de 26/8, ele estava lindo e saudável.

No dia 5/9, veja fotos abaixo, o encontramos com a pele esfolada em diversos pontos, provavelmente por roçar nas pedras para se alimentar, e com um enorme ferimento do lado direito do corpo, que vai do dorso ao ventre, pega a nadadeira cefálica, as fendas branquiais, os órgãos reprodutores e que machucou profundamente a nadadeira peitoral e a cabeça. Tais marcas indicam que ele ficou preso em uma poita. Poderia ter morrido, mas conseguiu lutar e escapar. Será que outras mantas sofreram assim no trajeto até a luz? Elas também conseguiram se soltar dos cabos? Será que o Lucca ainda está vivo?
                                              

Contamos com o apoio da comunidade e das autoridades de Noronha, para impedir que a população de mantas que vive e se reproduz nas proximidades do arquipélago não acabe seja dizimada pela ação humana.

Qualquer atividade de exploração de turismo sustentável com raias-manta só pode ser implantada em um local que não ofereça riscos aos animais – e também aos expectadores, que neste caso também correm risco pois se posicionam nas pedras, sem nenhuma proteção, para observar a movimentação na água.

Agradecemos os nossos parceiros em Noronha pelas informações e pelo apoio, desta vez em especial a Atlantis Divers, a All Angle, a Mayla Ydoo e a Zaira Matheus.

Quer receber noticias em primeira mão? acesse o link http://www.mantasdobrasil.org.br/acessar/registro/

Contato para imprensa:
Marcella Duarte
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11 97140.0740


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